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Jesus como modelo de ser humano.


Werbert Cirilo Gonçalves,
Paróquia Nossa Senhora da Conceição - Raposos.
Publicado no JORNAL DE OPINIÃO
Belo Horizonte, v. 1079, p.6-6. 2010.

Acreditamos que é significativa a análise sobre o Cristo como modelo de ser humano, sobretudo, neste tempo em que a Igreja no Brasil reflete o tema da Campanha da Fraternidade: Economia e Vida. Pois bem, Jesus Cristo é modelo de humanidade. Qualquer ser humano que desejar cumprir fielmente seu natural sentido necessita ser aquilo que o Homem-Deus foi na história: verdadeiro ser humano, completo, único e realizado, pois Ele foi o ser mais humano na história e o ser mais divino no mundo.

Portanto, o modelo de ser humano é o homem-Deus encarnado na nossa história, Jesus Cristo, que é para o cristão o modelo de humanidade a ser seguido. Por isso, quando dizemos que somos cristãos expressamos, mesmo que inconscientes, a ousada missão em ser aquilo que o Cristo foi na história dos homens. Não queremos aqui dizer que devemos ser deuses, mas a partir da autenticidade da vida de Cristo, descobrir a verdade do que somos e o caminho que nos leva à realização humana.

A plenitude da vida do Emanuel (Deus-conosco) no mais concreto da realidade humana é o ensinamento primordial, uma vez que é em si mesma salvação. Toda a história do homem Jesus presente entre nós, num diálogo digno de transformação, é história de salvação, pois toda sua vida aponta para uma tarefa a qual todo homem deve se propor: buscar o que o torna feliz e viver o que há de mais verdadeiro na sua existência em conformidade com a vida de Cristo. Assim sendo, é chamado a tornar-se homem novo, no encontro e no seguimento a Jesus Cristo. 

E se queremos nos encontrar realmente com Jesus haveremos de ir à comunidade de fé, à Sagrada Escritura ou aos lugares onde há mais necessitados de caridade (amor); ambiente necessariamente humano onde emerge sua divindade. E nestes lugares nos encantaremos com um Deus que aos odiados do mundo se faz amor, aos doentes se faz cura, aos excluídos se faz acolhida, aos pecadores se faz perdão e à vida de todos esses se faz presença.

Por isso, todos os encontros de Jesus são encantadores. Por exemplo, como é fascinante na montanha (Mt 5) a saudação de Jesus aos pobres em espírito, aflitos e mansos, famintos e injustiçados, misericordiosos e puros de coração, promovedores da paz, perseguidos, insultados e caluniados. A todos esses, Jesus anuncia a felicidade e a conquista do Reino. Todavia, é mais deslumbrante quando Ele sentado na montanha se dirige à multidão chamando-a de sal da terra e luz do mundo. Essas palavras que promovem os excluídos e conscientiza-os de sua dignidade, tornam-se um convite à multidão a testemunhar o Reino com boas obras e a iluminar com a luz do amor o coração dos outros homens a fim de levá-los a glorificar o Pai que está no céu. Jesus assim se faz esperança e libertação para os pobres, necessitados e marginalizados.

Encantamo-nos também quando nos deparamos com um Jesus sensível às necessidades do povo: com o olhar cheio de compaixão que lança à multidão faminta que, a partir do característico sinal da multiplicação dos pães, a alimenta. E sua sensibilidade de significar e aprender a grandiosidade dos gestos simples como quando a mulher pecadora  lava os seus pés e enxuga-os com seus cabelos diante dos discípulos. Enquanto todos estão preocupados com a ousadia da pecadora em se aproximar e lavar os pés de Jesus, Ele permite que a riqueza do gesto da mulher se torne um pedido sincero de perdão e busca pela misericórdia de Deus. Do mesmo modo, é belo o gesto de Jesus em tomar a toalha e a bacia, se abaixar e lavar os pés dos discípulos na ceia. Gesto rico em simbolismo que não expressa simplesmente a atitude humilde do divino homem que nos revela uma humanidade desprovida de preconceitos e se faz servo de todos, senão quer proclamar a pertença a Ele por meio da passagem pelas águas que purificam e nos tornam irmãos em Cristo.

No entanto, não só a vida, mas até mesmo a morte de Jesus torna-se para o cristão exemplo de atitude diante dos sofrimentos da vida: os dramas da contingência humana são amparados pela fidelidade de Jesus ao projeto de salvação do Pai. Deste modo, todas as atitudes do mestre Jesus devem inspirar o cristão de hoje e do futuro a ser no mundo aquilo que o Deus encarnado foi autenticamente na história. Somente inspirando-se na vida de Jesus poderemos construir e alcançar o Reino anunciado por Ele. Assim, haveremos de fazer da nossa vida uma mensagem do Cristo.

Contudo, cabe ao homem não imitar o Cristo como uma réplica, mas se inspirar nos seus atos para que o amor surja no seu tempo e na sua história. De tal modo, haveremos de levar ao mundo o amor aos que não são amados, o perdão aos que estão machucados pelo ódio, ousar  dar o abraço aos que precisam ser abraçados, servir os pequenos, lutar pelos sofredores, promover as diversas pessoas em situação de rua, aproximar-nos dos diversos mundos como os das mulheres marginalizadas e do complicado mundo dos viciados, lutar em prol dos que passam fome e dos que não têm oportunidades, voltar o nosso olhar para os desempregados e para os que mendigam subempregos, derrubar dos tronos os que se preocupam com a construção do seu próprio reinado, curar os doentes e enfermos no coração e no espírito, profetizar diante das falsas autoridades do templo e da política, amar os excluídos e alimentar os famintos.

Por fim, um alerta: é necessário que o ser humano nunca deixe que a trave da superficialidade dos objetos frívolos de consumo, da riqueza exacerbada e dos ídolos do poder opressor, entre nos seus olhos e o atrapalhe ver a beleza da vida que está na simplicidade e na caridade. E que essa mesma trave nunca impossibilite o homem de ver o encanto de sua essência e existência, pessoa amada desde o início e amparada por Deus.

Diante da banalização da vida, dos desafios econômicos e de poucas e frias relações humanas cada vez mais se imporá aos homens a busca pelo sentido. As pessoas do futuro talvez se perguntem com mais insistência onde nos afastamos do verdadeiro significado de ser humano. E, muito provável, toda a humanidade sentirá no mais profundo do ser um vazio que clamará por uma resposta precisa sobre a sua existência. Essa mesma humanidade buscará incessantemente um sentido que encante a mente, o espírito e, sobretudo, o coração. E certamente, o verdadeiro cristão encontrará no interior da comunidade o Cristo que é modelo e sentido para a vida.

Werbert Cirilo Gonçalves,
Paróquia Nossa Senhora da Conceição - Raposos.
Publicado no JORNAL DE OPINIÃO
Belo Horizonte, v. 1079, p.6-6. 2010.

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Ser humano: encontros e encantos

Werbert Cirilo Gonçalves, 2009.



Introdução

Apenas uma vez fiquei calado, foi quando me perguntaram o que é o homem (Kalil Gibran).

O que é ser humano? A resposta a esta pergunta é complexa e hermética. Ser humano é a expressão usada para dizer da realidade do homem, diante e diferente dos outros seres existente no mundo. Assim, a pergunta que devemos nos propor a responder, a fim de obter um resultado satisfatório ao espírito, será mais bem formulada deste modo: o que é o homem? Todavia, o homem não é um problema a ser resolvido, senão um mistério a ser contemplado. E se a pergunta é existencial a reposta também deverá ser. Além disso, não haverá autêntica resposta que prescinda da concepção do homem como ser de encontros e encantos.

Portanto, para falarmos sobre o tema - ‘Ser Humano: encontros e encantos’ - precisamos ousar mergulhar no misterioso universo do homem para buscar responder às questões que se apresentam a cerca deste ser, místico e encantador. No entanto, a nossa investigação sobre o mistério do ser humano precisa ser cuidadosa e profunda, tendo a certeza que a nossa resposta é limitada e estará sempre aquém de uma compreensão exata do ser humano, dado que o próprio homem e o universo existente no seu interior são misteriosos. E por ser assim, ao longo da história, os mais variados povos e culturas tentaram apresentar resposta significativa e real a respeito do ser humano, seja com mitos, lendas, crenças, etc. Da mesma forma, diversas ciências se ocuparam deste ‘sujeito-objeto de estudo’ tão fascinante e emblemático. Assim, dizer o que significa o ser humano é uma tarefa desafiadora, dado as diversas formas de entendê-lo, compreendê-lo e analisá-lo.


Antropologia Cristã

Deus colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de conhecer a Ele, para que, conhecendo-o e amando-o, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio[1] (Papa João Paulo II).

Não podemos ousar falar sobre o ser humano prescindindo da pessoa do Cristo, do mesmo modo, não podemos estudar a Segunda Pessoa da Trindade desconsiderando a humanidade de Jesus, o homem-divino; ou mesmo abstrair do homem como fim e destinatário do diálogo divino na história[2]. Por isso, qualquer reflexão cristã sobre o ser humano que peregrina por uma via que não seja o Cristo, se mostra superficial e à distância do real significado do homem; uma vez que, o nosso discurso a respeito do ser humano está fundamentado essencialmente no discurso sobre Jesus.

Afirmamos assim, que Jesus Cristo é modelo de humanidade. Qualquer ser humano que desejar cumprir fielmente seu natural sentido necessitará ser aquilo que o Homem-Deus foi na história: verdadeiro ser humano, completo, único e realizado, pois Ele foi o ser mais humano na história e o ser mais divino no mundo. Daí que ser cristão autêntico é ser humano, mas um humano que se expressa com total manifestação do ser na existência. Uma existência bondosa, aberta e acolhedora aos outros, especialmente aos mais necessitados e vivida na radicalidade do presente.

1. 1. O SER HUMANO NA HISTÓRIA SAGRADA.

A Bíblia nos mostra que a história sagrada do homem tem início e fim em Deus. Desde o início nos é contado no livro do Gênesis, em linguagem mítica e afetiva, como Deus cria o homem; sendo que ao longo de toda a história bíblica nos é relatado o amor de Deus por esta criatura tão maravilhosa, que tem em Jesus a imagem perfeita e concreta do amor divino que cria sempre o ser humano e aponta o caminho que dá sentido à sua existência.

Por esta razão, iremos ao Texto Sagrado para encontrarmos nas palavras divinamente inspiradas quem é o homem diante de Deus. Sendo assim, iniciemos o nosso trabalho partindo do livro de Gênesis onde há dois relatos da criação, a saber: Gênesis 1,1-2,4a e Gênesis 2,4b-3,24[3]. Não pretendemos apresentar todas as conclusões exegéticas dos dois textos. A nossa intenção é bem mais simples: oferecer uma reflexão modesta, porém significativa sobre o ser humano como a fundamental obra divina.


O juízo divino sobre o ser humano: imagem e semelhança do Criador.

O primeiro relato, Gn 1,1-2,4a, explica a origem do cosmo a partir da perspectiva dos habitantes do mar. Existe um caos, um deserto de água absolutamente desorganizado que se transforma por fim num cosmo harmônico. Deus vai cuidadosamente preparando um lindo jardim com água abundante e sombra para que neste lugar o homem viva feliz com a tarefa de guardar e cuidar das coisas. E antes do repouso do Criador no sétimo dia, Ele cria o homem. O interessante é que Deus cria toda a humanidade, sem que haja uma distinção temporal entre o homem e a mulher.
   
A criação mais do que um ato que dá origem às coisas, é relação permanente da graça divina que sustenta a existência dos seres e, principalmente, a existência do ser humano a todo instante. Portanto, dizer que o homem foi criado ou que as coisas foram criadas é, de certo modo, inapropriado; já que, verbo criar[4] é exclusivo de Deus que é o único sujeito que pode acompanhá-lo. Assim, o Divino-Criador está constantemente presente no homem e na mulher e voltado para eles.

Observando atentamente o relato da criação, descobriremos uma estrutura teológica que nos possibilita perceber que a sucessão dos seres criados não se refere apenas a uma temporalidade, mas indica que os últimos seres estão mais próximos ao Criador; os mais distantes de Deus encontram-se mais próximos do caos. O homem então, é visto como: ser nobre, próximo de Deus e imagem divina.

A beleza da narrativa de Gênesis 1 está repleta de sentido afetivo e poético que nos possibilita reflexões profundas e riquíssimas sobre a dignidade do ser humano. E deste modo, encontramos no texto algo que enche de encanto o nosso coração: o olhar contemplativo de Deus no sexto dia que vê que ‘Tudo era muito Bom’; este é o valor das criaturas diante dos olhos do Criador. Consequentemente, esse juízo é uma resposta significativa sobre o que Deus pensa sobre o ser humano, já que o homem e a mulher completam a obra da criação. Este juízo divino não julga “as qualidades das criaturas, todavia é a avaliação absoluta diante de Deus[5]. Com isso, afirmamos que o ser humano é bom, pois Deus o fez assim: bondade. Se acreditarmos que Deus cria todo o ser humano, em todo momento histórico, não será difícil chegarmos à conclusão que não há ser humano que esteja excluído desta legítima declaração divina. Independente da história e das atitudes do indivíduo diante do mundo, a pessoa humana é boa enquanto manifesta a bondade divina.

O interessante é que o homem, diferente das outras criaturas, é criado à imagem de Deus. Sabe-se hoje que imagem não se refere a uma imagem natural e sobrenatural de Deus no homem. Todavia, dizemos que o homem é imagem no sentido de que participa da Majestática realeza de Deus, manifestada fora dele (ad extra), e do seu Senhorio. Como imagem, o homem é o representante de Deus no mundo e recebe Dele o encargo para dominar as criaturas (a terra), porém, dominar no sentido de dirigir ou administrar (dominar: reger משל).

Diante da afirmação do homem como imagem e semelhança de Deus, é necessário compreender que o homem é imagem de Deus, mas Deus não é de jeito nenhum imagem do homem. O Criador não reflete a imagem do homem no mundo, todavia, o homem reflete a imagem do Criador e, como criatura, é a mais manifesta presença de Deus no mundo. É a criatura que não apenas comunica como as outras criaturas o poder soberano de Deus, porém é manifestação, na totalidade da sua existência, do ser de Deus infinitamente superior. É presença sacramental de Deus, é sinal da graça divina no mundo e para o mundo.

Ao criar o homem, Deus o faz indivíduo mais esplêndido e apresenta-o como o centro que dá sentido a todas as coisas, as quais existem por sua causa e por ele podem ser transformadas. O homem feito à semelhança de Deus é, por sua forma, aquele que supera toda a criação visível e essa afirmação, ao mesmo tempo, separa-o fundamentalmente de Deus, cuja transcendência absoluta se acentua pelo fato de o homem não aparecer como Filho, mas como Imagem. Não possui a mesma essência que Deus, mas apenas lhe é semelhante[6]. Como Deus é espírito pessoal, assim a semelhança consiste na dignidade de pessoa, que se refere ao valor[7] imensurável da existência da criatura humana.


O ser humano na linguagem afetiva da criação

Em Gênesis 2 é de uma estepe árida e estéril que carece de água e vegetação que Deus vai dando existência às coisas. Enquanto o homem, em Gênesis 1, é criado como ser mais nobre diante dos outros seres criados estando no fim da criação, em Gênesis 2, ele surge após a criação da terra e do céu, porém bem no princípio do segundo relato, ao mesmo tempo está no centro, em torno do qual se agrupa todas as demais criaturas.

No segundo relato da criação, há algo de magnitude afetiva; Deus modela o homem do barro como artesão. O homem é formado: parte da terra parte do poder divino. “A atividade de Deus é apresentada à maneira de um ceramista”. Essa linguagem carregada de significado afetivo quer expressar o amor divino apresentado de maneira tão poética pelo hagiógrafo bíblico. Daí se conclui que o ser humano é uma criatura amada por Deus desde o início. Assim, um lugar lindo e rico em presença divina, chamado de Paraíso, é preparado com extraordinário cuidado (amor). E é nesse ambiente que o ser de barro, depois de insuflado com o sopro divino (o bom hálito), vai habitar. Essa é a situação existencial a priori do homem, habitante do paraíso da harmonia radical e imperturbável com o Criador. Vivia assim, numa situação privilegiada[8].

Depois de ter sido modelado com a argila do solo e ganhado vida com o sopro divino, o homem foi tomado pela mão e colocado no jardim do Éden (Paraíso). E foi neste lugar que recebeu de Deus a ordem que o proibia de comer o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Em seguida, Deus viu que o homem precisava de uma auxiliar que lhe fosse semelhante, e formando todas as criaturas do solo pediu ao homem que as nomeasse, no entanto, o homem não encontrou entre as criaturas uma auxiliar que lhe fosse semelhante. Para eliminar esta falta, Deus resolve dar ao homem (Adão[9] que significa: homem do barro, terroso, terra vermelha: אדם) um ser que partilhe com ele a vida e a tarefa de dominar (que significa: cuidar, zelar, recriar). Assim sendo, faz cair um sono no homem e, do seu lado[10], cria a mulher. Deus cria Adão e lhe dá Eva (que significa: mãe dos Viventes) como companheira, ‘tirada do seu lado’. Eva é equiparada a Adão, é da sua mesma espécie, possui o mesmo valor e dignidade; ambos são da mesma imagem de Deus.

Como um texto rabínico (judaico) expõe: a mulher foi criada a partir de um osso do lado[11] do homem. Não de um osso da cabeça para que estivesse sobre o homem, nem mesmo de um osso do pé para que estivesse embaixo. Um ‘osso do lado’ expressa a relação de parceria. Estar ao lado é o mesmo que dizer que são juntos, iguais e que comungam da mesma vida. O homem não tem mais autoridade do que a mulher, não é melhor do que ela, nem mais perfeito. Sim, mesmo iguais em direitos, deveres, liberdade e dignidade, eles têm diferenças e isso é importante. Como colaboradores, juntos têm a tarefa de cuidar e recriar o mundo sempre à semelhança do seu Criador.

Ao ver a mulher, o homem, pela primeira vez fala. Antes mesmo de se nomear como tal, a mulher é nomeada[12]. Ela surge da interioridade do homem por quem é desejada do seu lado como igual. Como nos diz Evaristo Eduardo de Miranda: “Não do lado mental, mas da sua interioridade”. Uma informação interessante: Adão ao ver a mulher diz que ela é a sua imagem, e não quando vê Deus. “Ela é osso de meus ossos, carne de minha carne, e será chamada de mulher (isha): porque do homem (ish) foi tirada (Gn2,22-23)”.

Assim concluímos, Deus ama tanto o homem e a mulher que os modela, o que nos parece ser a expressão simbólica do grande carinho que Deus tem pelo ser humano. Coloca o ser humano num Paraíso, um lugar fantástico de relação próxima de amizade com o Criador. Contudo, o homem peca. Mesmo assim, se continuarmos toda a história bíblica vamos perceber que Deus vem ao longo da história humana, que também é sagrada, harmonizar-se com o ser que se isolou ao comer o fruto da árvore.

Jesus, modelo de humanidade.

Toda a criação, a começar pelo ser humano está iluminada pela realidade que é o próprio Cristo, que é a chave interpretativa que nos leva ao real significado do ser humano. Adão, o primeiro homem, fez um caminho diferente do que o próprio Deus lhe propôs. No entanto, o ser humano que parecia marcar a história como ser-pecador foi acolhido pela misericórdia divina e, merecedor da grandiosa obra de redenção, viu no Deus que se revelou homem: o modelo de autêntica humanidade.

Portanto, a existência de Jesus é uma antítese da existência de Adão. Este é representação de todos nós pecadores que não aceitamos a vontade de Deus e desejamos autonomia. O homem a exemplo do novo Adão, Jesus Cristo, deve estar aberto à integração com o todo da criação. Na Encarnação do Verbo tudo é valorizado: o homem, o cosmo e a história. Tudo tem seu real valor diante de Deus e aos olhos do cristão.

Jesus é o novo homem que assume um caminhar totalmente oposto ao de Adão. À diferença do velho Adão, Jesus viveu com finura, a aceitação da vontade do Pai, a relação fraterna e solidária com os irmãos, bem como, a responsabilidade em relação ao mundo criado. Considerado, assim, o mediador e salvador. Consequentemente, com o mistério da Salvação Pascal, o homem abandona sua situação de perdição e é acolhido para a realidade salvífica; sai da situação de perdição e se abre à realidade da salvação. Eis o sentido da vida de Jesus, que é exemplo no qual o homem deve inspirar-se: o seu viver foi obediência[13] ao Pai, amor e serviço aos irmãos.

É na história, no seu tempo que Jesus age em comunhão com a vontade do Pai sendo solícito aos irmãos em especial aos excluídos e abandonados pela sociedade. Sendo assim, se fixarmos o nosso olhar nas ações de Jesus, perceberemos que toda a sua vida é história de salvação e toda a vida humana que seja diferente, é uma existência pobre vivida numa realidade de não-salvação.

Na obediência ao Pai e na solidariedade para com os irmãos, radicalizadas ao máximo na cruz, o homem aprende a se relacionar não só com Deus, não só com os outros homens e mulheres na qualidade de outros, mas também com o mundo criado que passa, agora sim, a ser assumido como dom do Deus Salvador criador, um dom que solicita a sua responsabilidade[14].

A expressão ‘imagem de Deus’ usada no Primeiro Testamento pode causar problemas de interpretação: homem igual a Deus. É importante apreender que somente Jesus é a verdadeira imagem de Deus, o novo homem e início da nova humanidade. A verdadeira imagem de homem é Jesus Cristo: ele é a verdade do homem e a verdadeira imagem de Deus. Logo, é necessário afirmar que Jesus Cristo é a manifestação do Deus invisível. É imagem-modelo segundo a qual o mundo e especialmente o homem são criados. E o homem é semelhança com Deus, enquanto participante na semelhança divina de Cristo com Deus na graça e colaborador na construção do Reino de Amor.

O modelo de ser humano é o homem-Deus encarnado em nossa história, Jesus Cristo, que é para o cristão o modelo de humanidade a ser seguido. Por isso, quando dizemos que somos cristãos expressamos, mesmo que inconsciente, a ousada missão em ser aquilo que o Cristo foi na história dos homens. Não queremos aqui dizer que devemos ser deuses, mas a partir da autenticidade da vida de Cristo, descobrir a verdade do que somos e o caminho que nos leva à realização humana. Como nos diz o documento sobre a Catequese no Brasil: “Cristo deve aparecer como a chave, o centro e o fim do homem, bem como de toda a história humana[15] (CR 96)”.

Sim, Jesus Cristo se fez presente em nossa história. Sua presença conosco (Emanu-el) é um grande ensinamento e toda sua vida aponta para uma tarefa a qual todo o homem deve se propor: buscar o que o torna feliz e viver o que há de mais verdadeiro na sua existência. Com isso, o homem alcança sua perfeição em conformidade com Cristo. Assim sendo, é chamado a tornar-se homem novo, na união e no seguimento a Jesus Cristo, isso quer dizer que o homem é chamado à conversão todos os dias; com isso, esse novo homem é chamado a viver uma existência espiritual vivificadora, existência de abertura e universalização: acolhedora a todos os seres criados e a Deus.

Por fim, cabe ao homem não imitar o Cristo (como uma cópia), mas se inspirar nos seus atos para que amor surja no seu tempo e na sua história. Portanto, devemos amar a Deus que nos cria, numa atitude de reconhecimento, gratidão e amor; amor os outros que são os nossos irmãos; amor à natureza e ao mundo, que é a nossa casa; e a nós mesmos que somos seres de extraordinário significado aos olhos de Deus.

1.2. O Ser Humano é Pessoa

Por ser à imagem de Deus, o indivíduo humano tem a dignidade de pessoa: ele não é apenas alguma coisa, mas alguém. É capaz de conhecer-se, de possuir-se e de doar-se livremente e entrar em comunhão com outras pessoas, e é chamado, por graça, a uma aliança com seu Criador, a oferecer-lhe uma resposta de fé e de amor que ninguém mais pode dar em seu lugar[16] .

Nossa reflexão, apesar de modesta, para não ser medíocre deverá analisar o ser humano como pessoa. Essa categoria é de fundamental importância para a Tradição e o Magistério da Igreja. Pessoa humana é o termo do discurso teológico-filosófico usado para expressar a essência e a existência do homem. A essência humana é o homem em si mesmo, ou seja, o seu ser completo, o que é o homem. E a existência é a vida na sua relação com os outros, sua maneira de estar e de se relacionar no/com o mundo (relação).

Para a Filosofia e, principalmente, para a Teologia o ser humano é pessoa (prosopon e persona). Este conceito foi mais bem definido no campo religioso do cristianismo tendo seu real significado à luz das pessoas divinas. Santo Agostinho (século IV) foi quem usou o termo com mais precisão do que os seus precedentes, sejam no universo da fé judeu-cristão, sejam no universo da racionalidade grego-filosófica. O santo utilizou o termo para falar das três pessoas divinas: Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo). Tomás de Aquino (século XIII) foi outro santo, que com precisão, propôs uma definição do homem como pessoa: ‘ser subsistente de natureza e alma espiritual’. Não iremos aqui nos deter nestas definições, bem como, nas querelas filosóficas sobre o conceito de pessoa. Apenas iremos, simploriamente, falar rapidamente do homem como pessoa, visto que esse conceito sobre o ser humano é de capital valor para o cristianismo.

Em latim, pessoa se diz persona e em grego, se diz prosopon. Este termo se refere aos teatros gregos da antiguidade. Segundo relatos históricos, nestes teatros os homens usavam máscaras de cera para representar os personagens das Tragédias gregas. Assim, a pessoa era o que estava por baixo da máscara, ou seja, no ato de retirar a máscara, o ser humano se revelava substancialmente o que é (sub-stância: o que existe por baixo de...), sua identidade. Sendo assim, completamos que a pessoa humana é o que somos de mais íntimo, uma vez que se refere à verdade do “EU”. Como pessoa, o ser humano é essência, o que é em si mesmo, desprovido de suas máscaras de cera, o que significa que a categoria de pessoa corresponde à sinceridade[17] do ser humano.

Enquanto pessoa, o ser humano é compreendido como ser único, irrepetível e insubstituível[18]. Sendo assim, todo o ser humano é igual e merecedor de respeito visto que tem dignidade, o que significa: que o ser humano tem valor incalculável. Daí que os predicados ou características contingentes, como a: pobreza, riqueza, doença, idade, pecado, santidade, traços típicos, raça e cor, personalidade, humor, disposição espiritual, características físicas ou mentais - em nada podem alterar ou prescindir do valor majestático do ser humano que por si só é grandioso.

Como pessoa, o homem é ser inteligente e livre. É bem verdade que a liberdade que o homem tem é uma liberdade finita. Não é uma liberdade tal como a divina, contudo, sua liberdade é perfeita segundo a sua natureza e sua história. Logicamente, a liberdade humana que falamos é uma tarefa difícil à qual buscamos. Ao mesmo tempo, que parece inalcançável, se apresenta como meta. Essa liberdade tampouco pode ser entendida como libertinagem, é uma liberdade que implica o mais essencial da responsabilidade. Daí que liberdade jamais pode ser compreendida prescindindo do conceito genuíno de responsabilidade. Assim, esta liberdade se revela respeito ao que é diferente de mim e para qual estou aberto ao encontro e à acolhida. O respeito se dirige à dignidade intrínseca da pessoa, visto que dignidade se refere ao valor absoluto, irredutível e relativo do ser do homem e dos seus semelhantes. Sendo assim, dignidade é o valor incalculável de uma pessoa, pois somos seres amados por Deus, do qual somos imagem e semelhança.

A pessoa humana deve ser compreendida também como relação com o Divino. A pessoa é o principal interlocutor do diálogo estabelecido com Deus, é semelhante e merecedor da atenção divina que o sustenta e o encaminha em direção à verdadeira vida realizada em comunhão com os semelhantes e com o mundo. O ser humano é acolhido pelo mistério divino, com o qual se relaciona e do qual necessita totalmente: solidariedade divina.

Ao se abrir ao Mistério Divino (espiritualidade), o ser humano se experimenta cada vez mais amparado e agraciado à medida que mergulha no seu interior, no interior de Deus e na experiência de fé que dá sentido à sua vida. Portanto, o conjunto das afirmações sobre o ser humano nos leva a concluir que a pessoa humana é a expressão vértice do encontro de todo o mistério essencial com a complexidade da existência do homem. Assim, pessoa é a resposta mais exata sobre o que é o ser humano.

Portanto, pessoa humana é essência e também existência. Quando nos propomos a estudar com esmero a essência, contemplamos a realidade do homem como um ser encantador devido à admiração que a complexidade do seu ser em si causa em nós. E quando estudamos a existência humana, somos levados a perceber que a singularidade pessoal do seu ser se revela encontro com a riqueza das mais diversas realidades. Deste modo, afirmar a pessoalidade do ser é desenvolver o tema: ser humano encontros e encantos.


Ser de Encontros

O homem é ser consciente e livre, capaz de refletir sobre tudo e disposto a caminhar ao encontro das mais diversas realidades: natureza, semelhantes, Deus. O ser humano está lançado no mundo presente rumo ao futuro; mundo que é o espaço dos seus encontros e da efetivação de sua realização. Para muitos pensadores modernos, o homem é acentuado como um nó de relações, sendo assim, entende-se o homem pelos contatos que tem, ou seja, pelos seus encontros com as mais diversas realidades que o transcendem, mas que o afetam e por ele são afetadas.

O ser humano é único, porém não está sozinho no mundo. É um indivíduo, mas ao mesmo tempo é humanidade. Essa realidade de encontro e identidade é algo tão expressivo que nos faz intuir que a criação é um gesto de comunhão. Esse gesto eucarístico (ação de graça) da criação proporciona: diálogo, desenvolvimento e identidade ao homem, uma vez que, é pessoa criada com toda a força amorosa de Deus para conviver, aprender, ensinar e pertencer a um grupo chamado humanidade.

Queremos afirmar que não existe ser humano sem encontro. Deus partilhou com o homem o viver convocando-o a compartilhar, na sua liberdade, as mais significativas experiências através do encontro fecundo com os seus semelhantes. Toda a nossa existência está radicalmente ligada a outras existências, o que podemos chamar de solidariedade. Essa solidariedade pode revelar-se: cuidado, como a dedicação dos pais com um recém-nascido ou revelar-se afeto, como o amor entre amigos, irmãos, namorados; além disso, essa solidariedade nos remete às diversas escolas que freqüentamos ao longo da nossa vida, com os mais diversos mestres com os quais nos encontramos, como: avós, amigos, professores, padres, etc. Com certeza, nosso mais significativo encontro é com o mestre Jesus.

A Teologia sempre anunciou que Deus se revela ao ser humano. Trata-se de uma iniciativa completamente gratuita, que parte de Deus e vem ao encontro da humanidade para salvar. Enquanto fonte de amor, Deus deseja dar-se a conhecer, e o conhecimento que o homem adquire Dele leva à plenitude da própria existência.

Esse encontro marcado pela amorosa providência divina na história humana é denominado graça. A graça é o mistério da fé. É auto-revelação amorosa na história dos homens, que é a autocomunicação em Jesus Cristo e no Espírito Santo na qual Deus permanece mistério insondável e mesmo assim se dá a experimentar. O termo graça[19] se emprega à atitude de Deus que, ao se voltar para o homem, transforma, orienta, significa, engloba e ‘plenifica’ sua vida. É o caráter relacional do Ser Divino que graciosamente se inclina em direção ao homem o capacitando à vida autenticamente humana. Por isso, o homem é um ser agraciado.

Se, no tocante à própria conduta, as pessoas, o próprio Israel, povo do Senhor, tinham que contar com a possibilidade de que Deus abandonasse definitivamente sua criatura infiel, a experiência do Cristo Jesus e do Espírito Santo/sanador mostrou que isto é uma impossibilidade: nunca mais Deus há de retirar seu gracioso sim a todas as pessoas, sua bondade e graça (hesed) reinam definitivamente até a eternidade (Sl 126), nunca mais a proclamação do ano da graça será substituída pelo anúncio do dia da vingança (Cf. Lc 4,19 com Is 61,2)[20].

Esse encontro que ampara o homem frágil, nada mais é do que a graciosa dedicação de Deus que significa a justificação do pecador[21]. Sendo assim, o amor que é o instrumento de comunicação desse encontro, reconduz o ser humano em busca da própria identidade, bem como, o abre para o autêntico encontro com o semelhante e com todas as demais coisas criadas. Na graciosa dedicação de Deus, o ser humano torna-se nova criatura em comunhão com Deus e seus semelhantes.

Os encontros humanos exigem uma dedicação total. Estamos aqui falando das relações. Relações que exigem cuidado para que se transformem em encontros verdadeiros, significativos, saudáveis e amorosos. Enquanto se relaciona, o homem constrói a sua história. Nessa história se apresenta como ser social porque convive com outros da mesma espécie e, no meio de um grupo organizado, se forma (educação, aprendizado). Essa sociedade na qual vive e con-vive é estruturada politicamente e, por isso mesmo, como movimento interno dessa sociedade, o homem é entendido também como ser político, porque se encontra com os cidadãos que juntos formam a cidade, lugar da convivência e da construção de seus objetivos, sonhos e de sua efetivação pessoal e coletiva.

A ética é a ciência das relações humanas que visa à liberdade, a responsabilidade, os direitos e deveres do ser humano em prol do crescimento de todos em igualdade. No campo das relações do ser humano religioso, chamamos de moral as ações de inspiração divina que nos fazem amar, cuidar e promover todas as criaturas e, principalmente, o ser humano em vista do bem comum e em direção ao Bem supremo. Sendo assim, todo o cristão é chamado a viver sua vida em comunhão santa com os irmãos, respeitando e amando uns aos outros seguindo o ensinamento eticamente perfeito do Cristo: “Amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a ti mesmo”.

Em relação à Igreja, o encontro humano a faz acontecer (existir) e a se concretizar como: sacramento no mundo do amor divino, manifesto na comunhão dos cristãos. Não há Igreja sem encontro. Quando nos reunimos como comunidade de irmãos, somos enriquecidos pela fé uns dos outros e, é no templo, ambiente do encontro do humano com o divino, que os fiéis juntos elevam a Deus sua oração pessoal e, principalmente, comunitária.

Na liturgia, acontece o duplo movimento: ‘descendente e ascendente’[22], Deus que com sua graça se volta para os homens santifica-os e os homens que voltados para Deus, numa unidade fraterna, cultuam-no e glorificam-no. Assim, a liturgia sagrada se torna a comunhão das diversas situações da existência humana. Encontro das dificuldades, dos desafios, dos dramas humanos, das tragédias, dos sofrimentos, todavia, é também encontro dos sonhos, dos objetivos, das alegrias, conquistas, vitórias que trazemos para depositar no altar da comunhão eucarística e rezarmos uns pelos outros.

Daí a importância de freqüentarmos a Igreja e não apenas nos fecharmos em nossas casas ou entre as paredes do nosso quarto. Portanto, devemos nos lembrar das palavras do mestre Jesus: “Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles”. Esse número dois é simbólico e representa a união dos fiéis em nome de Cristo. E isso é também Eucaristia, ação de graças a Deus que recebe a oferta simbólica de amor da comunidade cristã que se encontra em cada celebração dos mistérios sagrados.

E é na história que Deus a nós se apresenta. É no nosso lar que Ele vem ao nosso encontro, independente da maneira como estamos. De que lugar estamos falando? Aqui se trata da realidade do nosso povo. Da mesma forma, que os encontros de Jesus se tornaram encontros de conversão (mudança de mentalidade, transformação interior, ressignificação da história pessoal e comunitária, salvação), os cristãos devem fazer dos seus encontros: vida bem-aventurada para todos. Portanto, a tarefa dos cristãos é: ser encontro que promova os crucificados por tantos fatores – pobreza, indiferença, marginalidade, preconceito, exclusão, opressão.

Concluindo, a história do Povo de Deus foi um constante êxodo. Um povo definido como peregrino que abandonou o sedentarismo para buscar o tesouro que estava além de suas fronteiras. É certo, que se caminha para o encontro com devido cuidado para não perder a identidade circunscrita pelos limites territoriais. É bem verdade, que no campo das relações humanas o limite forma a nossa identidade e deve ser respeitado em todo encontro. Isso vale tanto para nós como para os outros. Pondo isso, concluímos que o ser humano é vocacionado a abandonar seu mundo individualista e a se abrir para acolher a riqueza que está no encontro com o mundo misterioso do outro que se desvenda encantador.


Ser de Encantos

Muitas são as maravilhas, mas não há nada que seja mais maravilhoso do que o homem (Sófocles).

Encanto significa a realidade mágica de um ente, a própria magia ou a capacidade de fascinação de uma pessoa ou objeto. O ser humano é encantador no sentido que o seu ser causa admiração: seja por sua capacidade extraordinária de amar ou de fascinar, sua disposição em refazer os caminhos, de ressignificar a história pessoal e coletiva, de perdoar fragilidades humanas, de realizar tarefas grandiosas, de fazer o bem e promover a paz, enfim, devido à beleza admirável de sua pessoa.

O ser humano é encantador, uma vez que traz algo da sua causa primeira que é o próprio Deus. O que há de divino no mundo é que nos proporciona encanto. Sendo assim, preferimos o termo entusiasmo, que significa estar cheio de Deus ou como o próprio termo em grego significa: em Deus (εν – dentro + θεός – Deus).  Por isso, o ser humano é encantador enquanto revelador da presença divina. Daí, os homens e as mulheres, bem como, as coisas criadas revelam-nos a presença divina à medida que nos ofertam o amor, a beleza, a unidade, a bondade e a verdade divina na qual estão mergulhados.

Engraçado como uma pessoa enamorada (apaixonada, amada e ‘amante’) consegue ver a beleza em tudo. Isso acontece, pois além de conseguir ver com os olhos amorosos o que há de divino no outro, seu coração (sua pessoa) está embrenhado de amor de Deus, o que possibilita também ver o encanto que há em tudo, até mesmo nas coisas simples. E isso acontece nos nossos diversos encontros (amizade, casamento, etc,), quando o amor dentro de nós é real. Deve ser também por isso que sempre nos apaixonamos em todas as etapas da nossa vida; inclusive as pessoas casadas e os religiosos se ‘apaixonam’ (se encantam com os irmãos e irmãs), pois nunca a presença de Deus deixará de estar presente nas pessoas com as quais se relacionam e na vida que vivem.

Acreditamos que a Beleza no ser humano é fundamental. Não a beleza física, mas a Beleza essencial, aquela que sustenta a harmonia da natureza e de todos os seres vivos e, sobretudo, do homem. Falamos da beleza da pessoa no seu todo. A Beleza divina que há nas coisas é expressa no amor, na ternura, na bondade, na fraternidade, na acolhida etc. Por exemplo, como é belo o sorriso de uma pessoa que está realmente feliz mesmo que seus atributos físicos não sejam tão fascinantes conforme os padrões de estética da sociedade e da cultura contemporânea.

O homem é também fascinante porque é bom. Sua bondade está enraizada na bondade divina desde a sua criação. O bem nos atrai e nos encanta. É por isso que todos nós desejamos o bem que há em tudo. Queremos possuí-lo porque nele está a nossa felicidade e paz. E isso é tão verdade, que todos nós nos sentimos em paz e agraciados quando estamos com uma pessoa boa. Uma pessoa boa é aquela que nos faz experimentar o amor na sua acolhida afetuosa, na sua oferta agradável, no carinho de suas palavras e ações, na ternura do seu silêncio, etc.

É por causa dessa presença amorosa de Deus em tudo, que a humanidade, em todos os tempos e lugares, olhou para o ser humano admirado e encantado com a beleza da sua pessoa.

Admirado diante da grandeza do universo e do mistério da sua vida, o ser humano se pergunta: Quem sou eu? Qual a minha origem? Para onde vou? Assim, o ser humano se põe a caminhar em busca de um sentido para o cosmo e para a própria existência. E a jornada é longa, porém, à medida que caminha, pode contemplar sempre algo novo; a verdade vai sendo assim desvelada. E aquele que se põe a caminhar é porque se sente seduzido pelo objeto de desejo (a Verdade). Deste modo, encantado pela Verdade, sempre quer ir além, para poder contemplá-la e possuí-la mais.

A verdade se apresenta a nós crentes como o próprio Deus revelado em Jesus Cristo que dá sentido à nossa existência e nos faz contemplar a nossa vida como algo surpreendente, e desta forma, o ser humano é contemplado como um ser maravilhoso diante das coisas criadas por Deus. Nas palavras de Sófocles: “muitas são as maravilhas, mas não há nada de mais maravilhoso do que o homem”. Deste modo é o mundo, maravilhoso, e o próprio ser humano ao olhar para si, encanta-se com a beleza da sua vida, com as suas relações com o mundo, com suas possibilidades, seus sentimentos, paixões e com sua história rica em vivências; resumindo, o encanto está na imponência e simplicidade da pessoa.

A vida de Cristo foi uma vida encantadora. Todos nós cristãos somos apaixonados com a vida de Cristo. Vida comum, simples, mas vivida na totalidade do presente da história. Uma vida que é plena em sentido. Jesus foi assim, homem que inteiramente na história amou o mundo e a humanidade. Viveu cheio de amor pela vida e pela simplicidade das coisas.

Jesus era o homem do encanto. Nunca iremos seguir alguém que não nos encante. Como já foi dito, o que está pleno de Deus é o que move o nosso Espírito a caminhar em sua direção e o que nos faz desejar possuir o objeto encantador. O próprio Deus encarnado na nossa história encantou a tantos, seja com suas palavras, seus gestos e suas ações que salvaram vidas. O Cristo tinha olhos capazes de penetrar o mais profundo e contemplar toda a história da pessoa e não apenas uma parte.

Diante da pecadora adúltera, enquanto todos estavam querendo apedrejá-la por causa de uma parte da sua história (um erro, um pecado), Jesus conseguia ver a existência humana frágil mais grandiosa da mulher diante do Pai (do Abba). Não via apenas o que ela tinha de bom, como comumente pensamos. Ele via, no contexto da fragilidade humana, a sua vida rica em sentido que necessitava do perdão. E foi isso que Ele fez. Deu-lhe o perdão que é o maior gesto de amor que se oferta à fragilidade humana e dignifica o ser humano[23].

O mestre Jesus foi homem encantado e admirado com a vida na sua singeleza e imponência. Isso nos é claro no Evangelho quando Ele fala de coisas simples, mas importantes; quando usa nas parábolas elementos da natureza; quando caminha com os pobres; quando se aproxima do cego à beira do caminho; quando se põe à mesa com o cobrador de impostos, etc. Seus prodígios e milagres são grandiosos e expressam o poder divino, no entanto, nos encantamos com gestos bem humanos de Jesus como sua presença entre os lascados da sociedade, sua preferência pelos excluídos, seu olhar misericordioso sobre os dramas humanos, sua acolhida às crianças, a força dos seus passos diante dos seus algozes, sua sensibilidade de perdoar os inimigos, o seu carinho pelo discípulo amado e os outros, sua preocupação com sua mãe Maria que estava aos pés da cruz, a beleza da sua fidelidade até o fim.

Somente alguém que viveu intensamente o presente da vida encantado com a beleza das coisas é capaz de perceber, no fim da sua história, que tudo foi consumado e, nesse momento, a morte não se torna o fim da existência total, mas apenas o termino da presença humana no tempo e no espaço: existência na história. Por isso, viver a vida com entusiasmo (em Deus) nos possibilita viver a vida em comunhão eterna com Deus. O encanto (enamoramento) torna a nossa caminhada mais bonita, os nossos fardos mais leves e enriquece a existência do ser humano.


Conclusão



Tudo que foi dito acima é palha diante da totalidade do ser humano. Todavia, nos revelou que o ser humano é ser de universos – um ad extra e outro ad intra – que são os mundos com os quais se relaciona. Esses dois universos são infinitos; tanto o que está fora do ser humano quanto o que está no seu interior. O universo exterior é o lugar da totalidade dos seres em geral com os quais convive; e o universo interior é o lugar de sua intimidade, de seus pensamentos e sentimentos, é o lugar onde aqueles seres exteriores recebem significados. E é por isso tudo que a nossa reflexão jamais poderá abarcar a totalidade do ser humano.

Enfim, queremos deixar aqui um conselho importante. É necessário que o ser humano nunca deixe que a trave da superficialidade dos objetos e das coisas mundanas como a riqueza exacerbada, os objetos frívolos de consumo e os ídolos do poder opressor, entre nos seus olhos e atrapalhe ver a beleza da vida que está na simplicidade. E que essa mesma trave nunca impossibilite o homem de ver o encanto de sua essência e existência, pessoa amada desde o início e amparada divinamente pelo Criador.

Procedendo assim, não correrá o risco de tornar-se uma pessoa egoísta, já que o egoísmo é próprio do ser humano que se fechou no seu mundo cheio de futilidades e mediocridades, de maneira que, não consegue mais perceber a necessidade de se abrir às demais realidades. Quando o ser humano é egoísta se torna incapaz de encontra-se com o semelhante e, principalmente, com Deus.

Diante dos desafios de um mundo cada vez mais tecnicista e de poucas e frias relações humanas, pensamos que cada vez mais se imporá aos homens a busca pelo sentido da vida. As pessoas do futuro talvez se perguntem com mais insistência onde nos afastamos do verdadeiro significado de ser humano. E, muito provável, toda a humanidade sentirá no mais profundo do ser um vazio existencial que clamará por uma resposta precisa sobre a existência; essa mesma humanidade buscará incessantemente um sentido para a vida que encante a mente, o coração e, sobretudo, o espírito.


Referências Bibliográficas


VAN THUAN, François X. N Cardeal. Testemunhas da Esperança: Quando o amor irrompe em situações de heroísmo e no dia-a-dia. Cidade Nova, São Paulo, 2002.

CNBB. Catequese Renovada: orientações e conteúdo. Documentos da CNBB, nº26. Paulinas. Edições Paulinas, São Paulo, 1986.

H. GROSS. Exegese Teológica de Gênesis 1-3, in Misterium Saluits II/2. Vozes, 1972.

HILBERATH, Bernd Jochen, Doutrina da Graça. in: Manual de Dogmática. Org. Theodor Schneider. Editora Vozes, Petrópolis. 2002.

MIRANDA, Evaristo Eduardo de. Animais Interiores: nadadores e rastejantes. edições Loyola, São Paulo, 2004.

PAPA JOÃO PAULO II. Carta Encíclica: Fides et Ratio.

RÚBIO, Garcia A. O ser humano criados em Jesus Cristo, in: Unidade na Pluralidade.

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Edição Típica Vaticana. Edições Loyola, São Paulo, 2000. Texto típico latino, Libreria Editrice Vaticana.


[1]  Carta Encíclica: Fides et Ratio, do Papa João Paulo II.
[2] Segundo Karl Rahner, o maior teólogo do século XX, toda a antropologia é cristologia e toda cristologia é uma antropologia deficiente. Cristologia é a disciplina da Teologia que estuda a Segunda Pessoa da Trindade: Jesus Cristo.
[3] Houve grandioso esforço para compreender a gênese literária do Pentateuco, no entanto, os cientistas bíblicos não puderam sustentar as teses sobre a composição dos cincos primeiros livros da Bíblia. Buscando resposta na própria fonte sagrada do Pentateuco passaram a camadas de tradição, compreendidas principalmente em vista à nova dimensão da sua gênese-histórica. Daí perceberam que havia diversas tradições que remontavam à epoca de Moisés. A primeira narração do Gênesis, Deus é chamado de Elohim (אלוחים) e na segunda, seu nome é o tetragrama não pronunciado (יהוה) IHWH Elohim – Adonai (Javé). Assim, no livro de Gênesis há dois relatos da criação, a saber: Gênesis 1,1-2,4a (chamado de relato de tradição P ou sacerdotal) e Gênesis 2,4b-3,24 (chamado de relato de tradição J javista).
[4] Em hebraico criar se diz  bara ברא.
[5] H. Gross. Exegese Teológica de Gênesis 1-3, in Misterium Saluits II/2. Vozes, 1972. p27.
[6] IBID. p.230.
[7] As coisas possuem valor seja: ‘simbólico, monetário, sagrado, afetivo, psicológico, etc’. O valor do ser humano se diz dignidade, ou seja, a dignidade é o valor que todo ser humano possui simplesmente por ser pessoa: única e boa diante do olhar divino: “... e Deus viu que era bom”. Por isso, uma autoridade civil, um rico, um pobre, um mendigo ou mesmo um presidiário têm o mesmo valor aos olhos de Deus. Dignidade para nós é diferente de personalidade ou situação em que uma pessoa vive.
[8] A liberdade está ligada à possibilidade da tentação.
[9] A palavra homem evoca a terra, o pó da terra - adamá אדמה em hebraico ou húmus em latim. A palavra animal evoca a alma (anima: sopro, vida, ar), o princípio vital próximo e frequentemente oposto a animus (pensamento, inteligência, espírito, alma) o outro princípio que preside a atividade de um ser-vivo. Evaristo Eduardo de Miranda. Animais Interiores: nadadores e rastejantes. edições Loyola, São Paulo, 2004. p.29.
[10] Parece o mito grego do andrógino. O andrógino foi um ser dividido em metade: uma metade se tornou homem e a outra metade mulher. Contudo, depois de separados viveram o desejo eterno (amor) de se encontrarem e se unirem novamente.
[11] Melhor usar o termo ‘lado’ conforme a tradução mais exata do termo hebraico do que ‘costela’: tsela em hebraico – צלע.
[12] A palavra em hebraico que se refre a ‘homem’ é: ISH e a ‘mulher’: ISHA. Segundo estudiosos bíblicos, há aqui um jogo de palavras do hagiógrafo bíblico: “Se chamará isha porque do ish ela foi tirada” (Gn 2,23).
[13] Obediência – do latim: ob-audire - ouvir para...; ouvir a Palavra do Pai e atualizá-la; cumprir o que Deus propõe.
[14] Garcia A. Rúbio. O ser humano criados em Jesus Cristo, in: Unidade na Pluralidade. p.187.
[15] Catequese Renovada, Documentos da CNBB. p. 96.
[16] Catecismo da Igreja Católica, número 357. pg. 103.
[17] Sinceridade (vocábulo latino): Os romanos fabricavam vasos com uma cera especial capaz de torná-los transparentes. Assim, parecia que o vaso estava “Sine cera” queria dizer "sem cera", que se referia a uma qualidade de vaso perfeito. O sincero, à semelhança do vaso, deixa ver através de suas palavras os nobres sentimentos de seu coração.
[18] O ser humano enquanto pessoa tem um valor capital, por isso mesmo não pode ser substituível. Contudo, as nossas ações e tarefas em determinados cargos e funções são substituíveis. As pessoas em determinadas funções podem ser exoneradas, mas não a pessoa em si, pois ocupa um lugar privilegiado aos olhos de Deus.
[19] A palavra hebraica equivalente ao termo graça é Hesed – 1 dedicação espontânea e incondicional de Deus. 2 ação que proporciona plenitude e salvação. Com amplitude de significado o termo hesed é comparado a hanan (afeição, amabilidade, benevolência, solidariedade, bondade, graça). E também tem haver com emet: fidelidade.
[20] Bernd Jochen Hilberath, Doutrina da Graça. in: Manual de Dogmática. Org. Theodor Schneider. Editora Vozes, Petrópolis. 2002. p.18. – o termo Senhor que aparece na citação foi usado no lugar do termo Javé que está na passagem original no livro, termo não pronunciado no judaísmo. Nós preferimos aquele termo a este, devido à questão ecumênica.
[21] Num retiro ao Papa, pregado pelo cardeal Van Thuan, encontramos uma bela frase que nos fala da realidade humana diante do pecado: “Não existe santo sem passado, nem pecador sem futuro”. François X. N. Van Thuan, Testemunhas da Esperança: Quando o amor irrompe em situações de heroísmo e no dia-a-dia. Cidade Nova, São Paulo, 2002, p. 23.
[22] Esses movimentos não significam que Deus está lá nas alturas e que de repente desce sobre as nossas cabeças, mas é um movimento espiritual. Deus todo-poderoso se volta sobre o homem o santificando e resignificando suas fragilidades.
[23] Quando perdoamos não esquecemos o que nos foi feito, mas vemos que a pessoa que nos ofendeu é maior do que o seu pecado. O olhar amoroso faz-nos ver o real valor do ser humano. Sendo assim, só não conseguimos perdoar o pecado de um irmão quando estamos mergulhados nos nossos pecados. O mal que o pecado causa em nós, impossibilita-nos oferecer o perdão a nós e aos outros


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ENCONTROS E REENCONTROS

Com agradecimento aos Shalonitas de Barão de Cocais

Werbert Cirilo Gonçalves, XXII Jornada de Shalom

Não existe ser humano sem encontro, tampouco existe shalonita sem reencontro. Essa assertiva inicial tem a tarefa de provocar a nossa atenção para a vivência da Jornada do Shalom para além das paredes da casa de Retiro.

Pois bem, o homem constrói a sua história à medida que se encontra. Ele é único, porém não está sozinho no mundo. É um indivíduo, mas ao mesmo tempo é humanidade. Logo, ele foi necessariamente criado para se encontrar, partilhar e descobrir na oportunidade dos relacionamentos, a riqueza que há no universo para além das fronteiras do seu mundo e, assim, se inventar e se reinventar na nobre tarefa de se auto-construir. Essa realidade de encontro e identidade é algo tão expressivo que nos faz intuir que a criação é um gesto de comunhão: Deus que por amor reparte vida. Conseqüentemente, todo verdadeiro encontro humano está fundamentado na inclinação total de Deus que deseja partilhar o viver em abundância. Ele partilhou com o homem a vida convocando-o a compartilhar, na sua liberdade, as mais significativas experiências através do encontro fecundo com os seus semelhantes.

Da mesma forma, os encontros humanos exigem uma dedicação total. Estamos aqui falando de relações que exigem cuidado para que se transformem em encontros verdadeiros, significativos, saudáveis e amorosos. Com certeza, nosso mais significativo encontro é com o mestre Jesus.

A Teologia sempre anunciou que Deus se revela ao ser humano. Trata-se de uma iniciativa completamente gratuita, que parte de Deus e vem ao encontro da humanidade para salvá-la. É o caráter relacional do Ser Divino que se faz humano (Jesus Cristo) e graciosamente se inclina em direção ao homem. Enquanto fonte de amor, Deus deseja dar-se a conhecer, e o conhecimento que o homem adquire através do encontro com Ele leva à plenitude da própria existência.

Em relação à Igreja, o encontro humano a faz acontecer (existir) e a se concretizar como: sacramento no mundo do amor divino, manifesto na comunhão dos cristãos. Não há Igreja sem encontro. Igualmente, não há shalonita sem reencontro. O Reencontro do Shalom é a reunião da comunidade de irmãos que são enriquecidos pela fé uns dos outros e juntos elevam a Deus sua oração pessoal e, principalmente, comunitária. Portanto, o Reencontro do Shalom é necessariamente uma Celebração de Ação de Graças (= eucaristia). Nessa Celebração se festeja o quarto-dia com as suas dificuldades, desafios, dramas humanos, sofrimentos, todavia, é também celebração dos sonhos, dos objetivos, das alegrias, das conquistas, da amizade, da fraternidade e da missão de shalonita: ser no mundo um sacramento da paz. Tudo isso, trazemos juntos e depositamos no altar da comunhão eucarística onde todos nos encontramos.

Todas as vezes que os shalonita celebram a Eucaristia, eles se reencontram onde quer que estejam. A Eucaristia é a comunhão, a grande ação de graças onde se reúnem os legítimos irmãos. Não há distancia quando se celebra a Eucaristia. Todos os limites são transpostos. Nem mesmo a morte é capaz de impedir a nossa união, pois é o próprio Cristo, o mediador entre o céu e a terra, que nos une através do seu amor eucarístico.


Concluindo, a história do Povo de Deus foi um constante êxodo. Um povo definido como peregrino que abandonou o sedentarismo para buscar o tesouro que estava além de suas fronteiras. Assim, somos convidados a irmos ao reencontro da riqueza do mundo misterioso e encantador do irmão que um dia celebrou conosco uma Jornada.

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